O artista é o sujeito que
empresta, por algumas horas, seu corpo e alma aos outros. É através deles que o
público pode se afastar do seu próprio cotidiano e contemplar e refletir sobre
o viver. Ou seja, é pelos processos de identificação e projeção que usufruímos
de qualquer experiência artística. No cinema isto se torna mais potente devido
a sua linguagem (cunhada pela cultura ocidental) e seu aparelho visual. Entramos de maneira mais profunda na história
e na vida dos personagens na sétima arte. Os bons filmes são aqueles que nos
fazem sentir e viver suas histórias.
Mas ser veiculo para outras
vidas pode ser uma tarefa esvaziante e angustiante. O artista pode se perder
nas identidades que vive perdendo assim essência de si. Para o artesão das
artes questionar a identidade é questionar o próprio trabalho, o artista em
estado puro é o seu trabalho e suas múltiplas facetas. (Deixemos claro, que a
identificação indenitária com o próprio trabalho não é exclusividade de quem
trabalha com arte. Afinal, todos conhecemos pessoas que são o seu trabalho.
Vivem por ele e constroem sua identidade com eles.)
É esta relação do artista
com seu trabalho e sua identidade que Selton Mello aborda em “O Palhaço”. A
produção, segundo longa do ator, mostra a crise de identidade vivida pelo
palhaço Pangaré, filho do dono de um circo meio capenga do interior de Minas. O
filme tem um quê de autobiográfico, já que o próprio Selton Mello em uma
entrevista a revista TRIP, declarou ter passado por uma profunda crise
profissional e de identidade. O filme de maneira leve, e com uma direção
segura, tira sua graça dessa crise do protagonista/ diretor. Ironicamente, nada
mais engraçado do que um palhaço melancólico. O resultado também é que a
jornada de Pangaré acaba “apagando” os outros personagens, que se tornam
floreios na narrativa (lhes falta profundidade).
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