Thursday, November 17, 2011

A maneira como a sociedade, e as pessoas, constroem suas relações reflete-se no espaço privado e público das metrópoles. Seguindo essa premissa o diretor argentino Gustavo Taretto desenvolve, no longa “Medianeras”, uma leve história de amor e solidão. Taretto se mostra, antes de tudo, um apaixonado por Buenos Aires. Sua visão bela e crítica sobre a cidade são típicos frutos de uma relação duradoura, rica construída entre a atração e rejeição, ódio e amor, necessidade e vontade. De quem conhece por dentro e não esconde ou se desespera com os defeitos, mas os entende. A produção, que é baseada em um curta de mesmo nome de 2005, conta a história de dois vizinhos solitários que se cruzam constantemente, mas não se conhecem. Martin e Mariana moram na mesma rua, sofrem de solidão, se sentem sufocados pela cidade e sua escala e procuram um ao outro. Talvez esse seja o grande furo da lógica do roteiro de Taretto, que cada um tem tampa para sua panela. Afinal, Martin e Mariana descobrem
ao longo do filme que cabe a eles romper com o isolacionismo construído pela cidade. Não é o destino ou o outro que vai te tirá-los da solidão. Eles ajudam, mas são quase um gracejo da vida. Tanto Martin quanto Mariana devem construir, na clandestinidade que seja, suas janelas e conexões para o mundo e para o outro. A partir daí achar o “Wally”, de Mariana, é apenas uma questão de escolha. Como em “500 dias com ela” o longa se constrói em ciclo. É montado de maneira há ter na cidade seu maior personagem, a cola e o abismo das vidas. A cidade hipermoderna é ao mesmo tempo racional e anárquica, aproxima e afasta, regula e liberta. Outra referencia de Tarretto (explicita no DVD que Martin leva para todo lado) é Jaques Tati. Talvez o melhor cineasta que captou a difícil, e sutil, relação do homem com seu espaço urbano. Gustavo não consegue(e nem pretende) a contundência da crítica de Tati, mas faz um filme que diverte e reflete sobre seu tempos. Recomendado!

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